domingo, 19 de fevereiro de 2012

Camões, nosso "pai"


1524 ou 1525: Datas prováveis do nascimento de Luís Vaz de Camões, talvez em Lisboa. 
1548: Desterro no Ribatejo; alista-se no Ultramar. 
1549: Embarca para Ceuta; perde o olho direito numa escaramuça contra os Mouros. 
1551: Regressa a Lisboa. 
1552: Numa briga, fere um funcionário da Cavalariça Real e é preso. 
1553: É libertado; embarca para o Oriente. 
1554: Parte de Goa em perseguição a navios mercantes mouros, sob o comando de Fernando de Meneses. 
1556: É nomeado provedor-mor em Macau; naufraga nas Costas do Camboja. 
1562: É preso por dívidas não pagas; é libertado pelo vice-rei Conde de Redondo e distinguido seu protegido. 
1567: Segue para Moçambique. 
1570: Regressa a Lisboa na nau Santa Clara. 
1572: Sai a primeira edição d’Os Lusíadas
1579 ou 1580: Morre de peste, em Lisboa.


Para quem acha que a poesia de Luís Vaz de Camões pertence ao passado, nada melhor do que reler um poema do pai da língua portuguesa extremamente atual e vigoroso, escrito há mais de 400 anos. Somente a poesia de um gigante pode sobreviver incólume por tanto tempo.


MUDAM-SE OS TEMPOS...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
muda-se o ser, muda-se a confiança; 
todo o mundo é composto de mudança, 
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, 
diferentes em tudo da esperança; 
do mal ficam as mágoas na lembrança, 
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto, 
que já coberto foi de neve fria, 
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia, 
outra mudança faz de mor espanto, 
que não se muda já como soía.  


E ao mestre maior, o poeta gaúcho Carlos Nejar dedicou seus versos:



Luís Vaz de Camões


Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi resposta em cada verso.
E à fome, condenaram-me
os perversos e alguns
dos poderosos. Amei 
a pátria injustamente
cega, como eu, num 
dos olhos. E não pôde 
ver-me enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos de meu sonho
precavido? E o idioma
não passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra. E agora
me ergue no Convento
dos Jerônimos o túmulo,
que não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo ou mendigo
de uma pátria. Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei 
ser pai de santos filhos.

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