quinta-feira, 7 de julho de 2011

CONSIDERAÇÕES VERANIS

esvai o tempo pelas fissuras do dia
choveu
sementes rompem a dormência
no calor do solo úmido
como quem desperta
de um sonho antigo
longínquo
sedento por um copo d’água
...
a água mais pura de um rio
dizem
é aquela que se reserva
no leito mais profundo
à revelia de toda sede
resguardada
tal qual um cofre desprovido
de segredo
...

aves impressionistas pairam
contra o céu concretista
lentidão no passar dos carros
um acidente bombeiros
transeuntes curiosos observam
ansiosos pela tragédia humana
nos fios da chuva que repentinamente desceu
anjos dedilham
requiem aeternam dona eis
...
cigarras noturnas na cidade
destilam a complacência campestre
dos avós há muito sepultados
por isso vivem pouco
antes que o oloroso fio de sua mentira
se transforme em aluvião

* * *

Goiânia, outubro de 2006

Glauber Ramos

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