terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Quintal das lembranças – parte IV

João do Vale
O carcará encantado


João Batista Vale (*11/10/1933 - Pedreiras, MA; † 6/12/1996 - São Luís, MA), ou simplesmente João do Vale, foi o quinto numa família de oito irmãos, dos quais somente três sobreviveram.

Ainda garoto, foi obrigado a deixar a escola, a fim de ceder o lugar para o filho de um coletor de impostos recém chegado na região. Aos 12 anos de idade, mudou-se, juntamente com a família, para a capital maranhense. Aos 15 anos, fugiu de casa, indo para Teresina, onde trabalhou como ajudante de caminhão. Viajou para várias cidades, e numa dessas oportunidades chegou a Salvador. De lá, decidiu que iria para o Rio de Janeiro.

Na capital carioca, João do Vale conseguiu o serviço de pedreiro. Como não possuía residência fixa, dormia ali mesmo, no interior das construções. Durante o dia, ocupava-se no ofício. À noite, visitava rádios, à procura de artistas que gravassem suas composições. Numa dessas oportunidades conheceu Tom Jobim, que tocava piano num inferninho de Copacabana.

Nos anos 1950, suas músicas começaram a ser gravadas por alguns artistas. Fato relevante dessa época foi a parceria firmada com Luiz Gonzaga, artista já consagrado, o que se deu em 1957.

Já no início da década de 1960, a convite do sambista Zé Kéti, passou a apresentar-se no Zicartola, importante reduto de sambistas e compositores populares. Nascia ali a idéia do Show Opinião.

E o carcará ascendeu o seu vôo no cenário musical brasileiro. Gravado por artistas como Chico Buarque, Fagner, Maria Bethânia, Tom Jobim, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Nara Leão e tantos outros, João do Vale representava o ideal de um artista em estado puro, genuinamente brasileiro, que carregava em seu canto o sofrimento dos milhões de sertanejos esquecidos e órfãos do seu próprio país.

Fato pessoalmente marcante foi quando conheci, aqui em Goiânia, uma sobrinha do inesquecível João do Vale. Na ocasião eu era estagiário em um órgão público federal (que por sinal estava de greve). Naquele momento entretinha-me ouvindo o Show Opinião quando a faxineira adentrou a sala. Então perguntei-lhe se conhecia, ou pelo menos ouvira falar, em João do Vale. Ela, sem qualquer alarde, disse-me que ele era seu tio. Espantado com a resposta, perguntei-lhe qual a sua origem, ao que ela respondeu:

- Eu sou de Pedreiras, irmão!

Então ela me contou que João do Vale era irmão da sua avó materna. Ela mesma o vira algumas vezes, quando criança. E disse-me que ele era um homem simples, tendo como fraqueza maior a cachaça. Falou-me também de quando João do Vale regressou à Pedreiras em definitivo, vitimado por um derrame. E falou-me da praça que leva o seu nome, e do seu local de nascimento, Lago da Onça, zona rural de Pedreiras...

Para saber mais sobre João do Vale e outros artistas:

http://www.dicionariompb.com.br/



João do Vale e Jackson do Pandeiro juntos, interpretanto a música "O canto da ema", de João do Vale

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